7.11.10

Um mundo do tamanho dos seus sonhos - Lado B

Posto hoje este texto que fiz quando visitei o parque do Beto Carrero, em Santa Catarina, no início de Abril deste ano. Trata-se de uma série de impressões. Pode haver alguma incorreção nas informações, mas decidi publicá-lo da forma como veio na época, inclusive para preservar o estilo.

O parque

O município da Penha está situado no litoral de SC, abrangendo uma série de balneários, com população em torno de 20 mil habitantes e três atividades econômicas preponderantes: pesca, turismo e o Beto Carrero.

Fui ao parque no sábado à tarde. É uma estrutura muito grande que conta com as seguintes "atrações": shows em estilo circense, brinquedos de parque de diversões (montanha russa, elevador, etc...), pequeno zoológico e cenografias mil.

O urbanismo da cidade é evidentemente estruturado para servir o parque. As principais ruas, calçadas e estruturas levam todas a ele. Em torno das principais estruturas (binário de avenidas à beira-mar que terminam no parque) é impressionante a valorização e especulação imobiliária, com enormes mansões vazias à beira-mar e as melhores casas dos poucos que moram na região (imagino que sejam os advogados, médicos, arquitetos, donos de mercado, imobiliárias, restaurantes, etc de lá, que juntos devem ser em número menor que 100). Os pescadores só vi no mar e só posso imaginar onde e como moram, pois não consegui encontrar.

O parque emprega cerca de 1500-2000 pessoas, sem contar os terceirizados, em um município cujo total de habitantes é 20 mil. Segundo o site oficial do município, o mesmo conta com cerca de 15000 eleitores. Imaginando que seja essa a população economicamente ativa, é possível perceber que algo entre 1/3 e 1/4 (grosso modo) das famílias de lá tem alguém que trabalha no parque.

As condições de trabalho são péssimas: não há respeito à jornada de trabalho (todos trabalham mais que 8 horas por dia), não são pagas horas extras (segundo acordo coletivo, é banco de horas nunca repostas e nunca pagas - o sindicato é da Força Sindical), o almoço servido no refeitório é horroroso e os salários raramente passam do mínimo. Não há respeito à relação função/remuneraçã o - os trabalhadores não especializados (grande maioria) são chamados a fazer qualquer coisa, desde segurança à carpintaria. Ainda, o parque tem a prerrogativa contratual de mudar arbitrariamente os trabalhadores de cargo, queiram ou não. Lá, o assédio moral é método de gestão de pessoas.

É o maior parque temático da América Latina. Mas isso porque além da área utilizada é contada também uma enorme reserva natural de mata atlântica privada, que diminui a cada vez que o parque precisa ser expandido.

Ano passado houve um surto de dengue no parque. Escondido em um certo setor há um grande cemitério de brinquedos, todos muito enferrujados e completamente abandonados. Sem contar que há um banhado natural no meio do parque e muitas lagoas e lagos artificiais. O caso foi evidentemente abafado.

Os artistas
 
A grande maioria dos artistas do parque são trabalhadores da própria localidade. Fora raríssimas exceções, nenhum deles teve aulas de absolutamente nada: aprenderam as acrobacias e truques por eles mesmos, numa tradição circense. São artistas-proletá rios, recebem em média 700 reais para fazer 3 shows por dia, todos os dias, sem feriados nem fins de semana. Vários deles ainda encontram força e tempo para trabalhar na pesca, na construção civil e em outros serviços.
 
O que mais me surpreendeu foi a qualidade de algumas performances e a ciência posterior de que foram os próprios artistas que montaram a maioria dos shows, sem coreógrafos nem professores. Os produtores dos shows atuam neles também.
 
É claro que a estética dominante é de pura breguice, bem ao gosto do público formado em sua maioria por famílias de classe média e média-baixa para as quais o enorme slogan na entrada do parque faz todo o sentido: "Beto Carrero World, um mundo do tamanho dos seus sonhos". Mas pude notar, também, a presença de muitos proletários em visita ao parque, embora em bem menor número.

Os animais

Uma das "atrações históricas" do parque é o conjunto de shows com animais. Como os mesmos foram proibidos há alguns anos, os bichos foram transformados em zoológico. Há tigres, leões, macacos, ursos, lhamas, elefantes, cavalos, búfalos, pôneis (nos quais as crianças podem dar uma volta pela bagatela de R$ 15,00), girafas, tamanduás, etc... Vivem todos confinados em espaços muito pequenos e estão todos magros e evidentemente mal tratados (principalmente os felinos), com feridas sob o pêlo e aquele ar de tristeza que assumem os animais engaiolados. Muito embora tal evidência, os visitantes se  regalam em tirar fotos e enunciar a todo tempo frases de efeito como "que lindo", "nossa, que legal", "filho, olha o leão", etc.

Há grande número de animais exóticos e trata-se de um zoológico privado montado com animais que antes participavam de shows, o que devia ser um horror e tanto. Vale perguntar: as girafas, leões e tigres foram comprados? Como se faz para comprar uma girafa? E um tamanduá-bandeira? Um elefante?

As cenografias

Tudo no parque que seja minimamente "real" está muito bem camuflado. A proposta, não escondida de ninguém, é criar um "mundo dos sonhos", local onde "seus sonhos se tornam realidade". Sem eufemismos, é algo como "pague R$ 80,00 para viver um dia em um mundo perfeito".

Há, por exemplo, uma "Ilha dos Piratas", uma ilha artificial, à qual se chega através de uma ponte, com tema de piratas, com cavernas artificiais, um barco pirata artificial, um farol artificial, etc. Não há nada lá, a graça é ir até lá e ver. Ver o que? O mundo dos piratas. Há também uma aldeia indígena (americana, como nos filmes de faroeste) e um "Forte Apache" em tamanho "real". Tudo, no fundo, não tem nenhuma utilidade.´

Há muitas estátuas espalhadas por todo o parque. Dinossauros, seres fantásticos, animais conhecidos e personagens humanos. Fiquei sabendo que elas foram feitas por um homem que trabalhava na construção civil (departamento do parque), que não ganhou por elas nada além de seu próprio salário de fome. Ao invés de construir edificações, fez estátuas. O resto da cenografia é feita por trabalhadores do parque mesmo, no Setor de Cenografia.

Por fim...

O parque é uma lição de como se desperdiçar forças produtivas. Há motores e máquinas para todos os lados. O objetivo delas? Girar coisas, levantar e abaixar barcos fora d´água, botar coisas e pessoas e um lugar para voltar a trazê-las novamente ao lugar de origem. Há até um teleférico cujo objetivo é dar aos visitantes um passeio panorâmico e poupá-los de uma extensa caminhada de 200 metros! São máquinas da ilusão.

Pude notar, também, que algumas partes do parque são muito parecidas com partes reais de cidades reais. Por exemplo, a zona de alimentação, onde há uma série de lanchonetes e cafés, é muito parecida com partes do Batel, Alto da XV, Cabral e Bigorrilho, que são bairros de Curitiba. É impressionante como o urbanismo real em muitos sentidos se assemelha com o urbanismo dos sonhos do parque.

Observando o público, notei que há um misto de ilusão de fato, provocada pelas características materiais do parque, e de auto-ilusão. Afinal, quando alguém paga tanto por um dia perfeito de fantasias, é como se bloqueasse a mente para qualquer estímulo que pudesse impedir a realização desse objetivo. O público é composto principalmente por famílias de classe média e média-baixa, mas também por alguns ricos e proletários.

Duas observações finais devem ser feitas: a) fica nítida a sensação de que os donos do parque são também os donos da cidade, ainda mais se lermos um jornaleco local patrocinado por pequenos comerciantes; b) se são os trabalhadores que constróem as edificações, operam os brinquedos, produzem e realizam os shows, fazem a cenografia e tudo o mais, qual a serventia de existir um patrão, um dono?

Um comentário:

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